sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Dia do músico: 22 de novembro




Deus mora na presença de uma ausência; o Amor mora lá. A música existe na presença de uma ausência, ela se faz, em mesma proporção, silêncio e volume de som acontecendo no embalo de ondas sonoras ao passo que em seu compasso não pode ser vista por sonolentos olhos. Toca a alma, traz anima ao ser e faz isso sem demora. Instaura uma revolução interior; a música abre portas. Células, figuras ou motivos ganham vida e corpo na dança do avivamento provocada por uma unidade de energia vitalícia que se propaga no espaço-tempo; a música acontece.
O músico é como um portal de combinações harmoniosas e expressivas de sons que leva pessoas a mundos distantes, emoções perdidas, cidades esquecidas, sentimentos inconstantes; ele te rapta para ápices de emoções em apenas instantes e como nunca antes. O músico sensivelmente nos porta para perto do pai com suas traduções rítmicas da realidade inconstante em ser; em sua música ele é uma variável constante do amor, harmonia, alegria e paz, assim como das lágrimas do mundo.
A música do músico amarra a gente, une os corações, aquece a alma e nos põe a sentir, deixando-nos a refletir. Sem música a realidade dura desta vida seria ainda mais estonteante e insana.
Obrigada doce harmonizador e equilibrista pelo ser sensível que és, por sua criativa mente, por transportar para símbolos e figuras, partituras, canto as partículas dessa vida que assiste como espectador e como protagonista é afetado, dessa melodiosa vida que em sociedade e comunhão com Deus se desdobra.
"Como pode tanto talento, criatividade e sensibilidade existir dentro de uma só pessoa… Mas existe! Você é uma inspiração! Parabéns e Feliz Dia do Músico!" (Autor desconhecido)

Laís Larissy

                            Santa Cecília, rogai por nós.

domingo, 23 de junho de 2019

Tu és pedra?

Escolher ser pedra seria optar por ser morte em vez de vida. Por que não ser uma frágil semente de onde as plantas podem nascer, florescer e então morrer? Sementes frágeis são paradoxalmente mais fortes que as pedras duras.
Viver de memórias, de passado é viver morrendo de saudades. Entretanto, não vejo espaço para a singela vida nesse gigantesco moedor de grãos. Tudo bem, tudo bem, sei que nas "saudades" é onde Deus firma sua morada, já que mora na presença de uma ausência; o amor mora lá. Contudo a memória, por si só, nos faz moradores das ausências. Toda vez que uma memória é lembrada, com ela podemos nos transportar, viajar até o passado. É só que o segredo é saber viver na presença de uma ausência. Se prender a só remememora é ser pedra.
Um conjunto de memórias definem a identidade de um indivíduo. De forma que supõe-se que a estrutura física e as conexões estabelecidas pelo cérebro estão sucetíveis as serem modificadas e transformadas a partir do movimento de criação de novas memórias, as quais são produzidas por intermédio de novas experiências. Somos seres compostos por mutabilidade e adaptabilidade.
Assumir a dimensão espiritual do ser é o despertar para a vida. Aprende-se a viver em meio a presença de uma ausência, a animar a alma ao invés de mortifica-la e esgota-la. Aprender o desejo pela vida nos remete a negar a imutabilidade pétrea, a mesmice, a verdade absoluta; o desejo de morte e optar por criar novas memórias e alimentar o processo criativo. Como bem diz Rubem Alves: trate de voar nas costas do vento para compreender o que é que a espiritualidade significa. O espírito é livre, é leve, voa e se regogiza. Os homens dizem amar a liberdade, mas de fato se aprisionam como fazem com pássaros colocando-os em gaiolas e tratam de ter péssimos hábitos como carregar pesadas bagagens na viagem-jornada e não perfumar sua alma. O Drummond tem poema lindo que fala sobre essas Almas perfumadas:

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver."

O ter vontade é a excelência humana, entretanto, essas vontades devem apontar para o alto, para o mundo sensível e leve, abstrato onde tudo muda e se transforma, onde tudo é possível, não para a realidade pétrea da terra dura e pesada.
O Rubem Alves traz mais um alerta quando diz: "Os homens são pássaros que amam o voo, mas têm medo dos abismos." Talvez se faça necessário refletir sobre as muitas bagagens pesadas que carregamos por aí nas costas. Pode ser que sejam fardos preenchidos por alfinetes, facas, tesouras que nos inclinam pra trás, ferem nossas asas e nos impedem de voar. Mas estamos internamente e de forma inconsciente, muitas vezes, carregando. Coragem! Força para abrir seus olhos para uma nova realidade, a do voo. O medo de sofrer te impede de viver; é pior que o próprio sofrimento.

Laís Larissy

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Bastar-se a si

Uma crônica de LLpoetiza

Síntese:
O júbilo da gente, pessoas simples, acontece com a despretensão do ser; o prazer se esconde por aí, pelo viver-se assim como se é, incumbido pela tarefa de dar bons alimentos a alma através do processo do conhecer-se a si.
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Dentre a fumaça dos carros, a poeira das vadias ruas e tantos altos edifícios, Edmundo, com suas esguias pernas compridas, camufladas por seu ordinário jeans azul desbotado, jornadeava. O menino andava altivo em seus pensamentos, erguido em sua postura, com seus olhos perdidos e distantes pela realidade embaçada. Em que Edmundo pensava era uma incógnita constante em ser até mesmo para si.
Enquanto se movia pelos espaços paralelos e paradoxais era atingido por mísseis e balas de fusis disparados por lentes  observadoras que não se ocupavam de olhar para seus umbigos, enquanto o Sr. do destino, o tempo, passava e os saboreava e mastigava em vida.
Por vezes, o hermético garoto grego  retirava de sua pesada mochila um grande escudo para fazer sua defesa instantânea daqueles ataques dos insdiscretos olhares. Retirava ele uma capa da invisibilidade-como a da Hermione do Harry Potter-; só queria percorrer seu trajeto sem grandes observações sobre sua pessoa. Talvez, caminhasse querendo ser o que já era, o que já havia descoberto ser, um nada. Sim, ele descobriu a felicidade em ser um nada. Contudo, isso era o total oposto do ser um bosta ou ninguém.
O nada e o ninguém... nada representa a simplicidade, clareza, despretensão, naturalidade, enquanto que o ninguém representa a inércia, comodidade, ignorância, falta de afetamento com mundo. Ele, com certeza, andava com suas roupas pelo avesso. Mas sem querer, sem nenhuma pretensão, era representação do desavesso. Sua camisa era preta, a cor da razão.
Andava por aí, entre o vai e vem das pessoas, quando esbarrou com um conhecido seu e de seus pais. Para seu maior desconforto e colossal tragédia, este o encurralou com desafortunadas perguntas, que tinham a forma das de novelistas bisbilhoteiros:
  - Ei, cara! Eai? Anda fazendo o que da vida? Em que tu é bom, rapaz? Gosta de fazer o que? Trabalha em que? Estuda o que? Sabe sobre isso ou aquilo?
Conversando com desconhecidos que não lhe eram incomuns, observava a sede e o deserto em seus olhos ilhados. Esse tipo de gente sempre o leva para um corredor e o encurrala entre seu personagem e o muro; querem que veja o que querem mostrar-lhe e dele procuram tirar algo.
Esses fulanos, do bolso retiram a indagação, uma arma cruel e a apontam em nossa direção, sem reação, pensar é a reação instantânea; calcular a direção, como a palavra SAÍDA(EXIT) iluminada de uma sala de cinema. Ver se torna inevitável, é preciso avistar, mirar e encarar a interrogação flutuante em cima daquela cabeça pensante a vista. Acima da nossa paira uma exclamação após um PLUFT! Que devagar, após devagar pelos pensamentos vorazes a cerca de todo acontecimento, depois de dar aquela leve e perspicaz respirada, sinônimo de "acalmamente", se transforma em pontos finais e vírgulas pontuais.
Em contrapartida, dentro dele, Edmundo, escrevia fazendo uso de reticências durante todo diálogo esquadrinhador e espiolhento. O crítico lhe causava o mesmo arrepio de uma criança piolhenta. E ele continuava sendo nada. Pode ter sido várias coisas naquele dado momento de gerar pensamentos, no decorrer do "Quis". Até porque nos utilizamos de aquarela e pintamos uma tela no decorrer dos momentos, mas não passa de um reflexo estonteante de quem éramos naquele pequeno período de tempo; eramos sombras em cavernas. A imagem foi construída por cima de um momento psíquico estabelecido, a datar, pelas últimas notícias, últimas experiências, produto de escolhas de um curto flash de existência.
Ele foi tudo o que podia-se imaginar fundamentando-se nos elementos expostos naqueles átomos de tempo. Enquanto isso, não era nada. Porque a nada nos resumimos. O homem se reduz a pó e ao pó retorna. Ele pode ser tudo enquanto nada é.
Naquele tempo, Edmundo, foi tudo e nada; representação do céu e do inferno em um imaginário totalmente alheio ao seu, enquanto esta outra mente lhe fazia severas críticas e vorazes julgamentos que nem sempre ficavam sob as sete chaves do silêncio da mente. Os julgamentos sempre escapam pelo cano de descarga, sempre estão nos olhos, nos pesos das palavras, nas atitudes que mentem dizendo não querer dizer nada.
O jovem rapaz terminou o papo e se foi insatisfeito, verificando o que lhe havia restado nos bolsos após assalto. Bobo percebeu que mais forte se sentia, porque tudo em si cabia e um jeito tinha dado naquela situação esquadrinhadora e espiolhenta; percebia que bastar-se a si mesmo era o que lhe cabia. Deixou para trás as sombras de uma realidade de julgamentos e preocupações de agradar um bando de gente vazia. O terror não mais o podia acometer e o vazio não preenchia seu ser. Ele era Edmundo, o único do mundo, um hermético menino que deu a luz a um novo universo de eventos onde importava e afetava, em primeira mão, a si, seu ser. Sabia do seu singular posicionamento no tempo-espaco e não era consumido e cegado pela ambição de ser alguém que lhe era estranho, alheio.
O espelho a sua frente refletia a sua a sua face quando despertou para essa nova realidade. Edmundo, o único do mundo.

LLpoetiza