sábado, 20 de agosto de 2016

Movidos pela intencionalidade

Fora de Si


"Eu fico louco
Eu fico fora de si
Eu fica assim
Eu fica fora de mim
Eu fico um pouco
Depois eu saio daqui
Eu vai embora
Eu fico fora de si

Eu fico oco
Eu fica bem assim
Eu fico sem ninguém em mim."
Arnaldo Antunes


Reflexão sobre o conteúdo do texto:

  O homem tem uma profunda admiração para com o mundo. Ao longo de sua existência, é provido pelo entusiasmo (élan), paixão (páthos), contemplação, curiosidade e disposição afetiva. 
  Além de razão é emoção. É um ser dotado de consciência, com capacidade crítico-reflexiva, ao passo que utiliza do mecanismo de abertura de seus sentimentos para compreender a realidade, a coisidade das coisas. 
  Como se sabe "O homem nada é enquanto não fizer de si alguma coisa. Exatamente ele é para si, no sentido de ser aquilo que fizer de si".(ABRÃO, 1999). É um ser definido pela consciência, histórico e temporal/finito. Dispõe de liberdade e é movido pela intencionalidade. A partir disso, orienta sua consciência, pois experimenta, experiencia. Sua essência é formulada pelo processo de experimentação do mundo, das coisas, o que faz usufruindo de sua liberdade de fazer escolhas. O homem é possibilidade de sim e não.
  Ainda sim, existem aqueles homens que admiram o mundo de forma ingênua, medíocre. Fazem de sua existência rasa. Estes se não buscarem a transgressão do conhecimento, jamais entenderão a profundidade do ente e sua força. Nunca compreenderão a linguagem do mundo e a si próprios.
  O ser que busca a transgressão, avalia criticamente, problematiza o real, quer desvelar, desnudar, tirar os véus da fantasia. Por isso é transcendente, sai de si para fazer um percurso para além do seu 'eu', afim de conhecer outras realidades, conhecer o desconhecido.
  Por que ser imanente durante toda a existência se se pode navegar por outros mares e enriquecer-se de grandes tesouros? Naufragar é um risco que se corre no caminho, mas homens fortes, autênticos, dizem sim a vida, são corajosos, agem com responsabilidade e compromisso, são homens de boa fé, imprimem um valor positivo nas suas escolhas, são otimistas -excelsior-. Por isso, não têm medo do novo, do desconhecido, dos riscos e fracasso. Vêem isso como uma mola mestra impulsionadora para seu desenvolvimento enquanto ser.
  Já nos disse Paulo Coelho que " o medo de sofrer é pior que o próprio sofrimento". O homem inaltêntico se acovarda, foge do novo, está sempre a buscar esconderijos, subterfúgios, está sempre transferindo sua responsabilidade a outros, quer abrir mão de sua liberdade.  E por isso não transgride, é ressentido (sua ação é reprodução, nunca age, sempre reage) e vive angustiado: com insegurança, tédio, melâncolia, desespero.
  Transcender é subir à "Torre de Marfim", é fazer abstrações, é nunca parar de refletir. É crucial para desvelar a realidade e autoconhecer-se.


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